domingo, 11 de outubro de 2009

A1 - Ficha de leitura sobre as etapas do processo de investigação científica



As etapas do processo de investigação científica

O processo de investigação científica, de acordo com os autores consultados, decorre em três actos cuja ordem deve ser respeitada, a saber:


1. Definição do problema

A ruptura com os preconceitos e as falsas evidências que somente nos dão a ilusão de compreendermos as coisas é o primeiro passo do processo de investigação científica.

2. Construção do modelo de análise

Só se pode efectuar a ruptura se estivermos na posse de um sistema conceptual organizado, capaz de exprimir a lógica que o investigador supõe estar na base do fenómeno. Apoiando-se nesse sistema, o investigador poderá lançar as proposições explicativas do fenómeno, definir um plano de pesquisa e as operações a aplicar e prever as consequências que logicamente devem esperar-se no final da observação

3. Verificação (recolha e análise da informação)

Uma proposta só acederá ao estatuto científico quando puder ser verificada pelos factos.
Estes três actos são interdependentes e relacionam-se intrinsecamente. Realizam-se ao longo de sete etapas que interagem entre si. Essas etapas são as seguintes:

  • 1. A pergunta de partida

Uma investigação é um processo de procura, sujeito a hesitações, incertezas e dúvidas. A estruturação coerente de um trabalho depende da clareza de escolha de um fio condutor por parte do investigador. A pergunta de partida deve ser clara (não deve ser vaga mas precisa), exequível (deve ser realista, adequada aos recursos pessoais, materiais e técnicos do investigador) e pertinente (evitar fazer um juízo de valor e centrar-se na compreensão do fenómeno).

  • 2. A exploração

Da exploração depende a qualidade de informação obtida. A exploração comporta as operações de leitura (visam assegurar a qualidade da problematização), as entrevistas exploratórias e alguns métodos de exploração complementares (estas duas últimas referências ajudam o investigador a contactar com os actores sociais e alargam ou rectificam o campo de investigação das leituras).

  • 3. A problemática

A problemática é a abordagem ou a perspectiva teórica que decidimos adoptar para tratarmos o problema formulado pela pergunta de partida. Deve responder à pergunta: “Como vou abordar este fenómeno?”. Constitui a charneira entre a definição do problema e a construção do modelo de análise. Podemos definir três momentos fundamentais:

1º momento - em que devemos explorar as leituras e as entrevistas e fazer um balanço das diversas abordagens do problema e elucidar as suas características de base essenciais;

2º momento - em que se define a problemática. A problemática constitui o princípio de orientação teórica da investigação, cujas linhas de força define. Dá à investigação a sua coerência e potencial de descoberta;

3º momento - em que se explicita o quadro conceptual da investigação e se apuram os seus conceitos fundamentais e suas relações.

  • 4. A construção do modelo de análise

A etapa de construção do modelo de análise constitui a charneira entre a problemática fixada e o trabalho de elucidação sobre um campo de análise restrito e preciso. Um modelo de análise é um conjunto estruturado e coerente de conceitos e hipóteses articulados entre si. Construir um conceito consiste em determinar as dimensões que o constituem e em precisar os indicadores que permitem a medição dessas dimensões. Uma hipótese é uma resposta provisória a uma pergunta. Convém precisar, uma última vez, a pergunta central da investigação, garantindo a estruturação coerente das hipóteses. Para construir o modelo, o investigador pode centrar-se nas hipóteses deixando os conceitos num nível secundário, ou fazer o inverso.


  • 5. A observação

A observação engloba o conjunto das operações através das quais o modelo de análise (constituído por hipóteses e conceitos) é submetido ao teste dos factos e confrontado com dados observáveis. Devemos responder às três perguntas seguintes: observar o quê? (os dados pertinentes são os definidos pelos indicadores das dimensões dos conceitos que estão envolvidos em cada hipótese); em quem? (é preciso circunscrever as análises empíricas no espaço, geográfico e social, e no tempo); como? (os instrumentos de observação e a recolha de dados).

  • 6. A análise das informações

A análise das informações consiste essencialmente na verificação empírica das hipóteses, na interpretação dos factos inesperados e na possível revisão das hipóteses. Essa análise passa pela descrição e a preparação dos dados necessários para testar as hipóteses, pela análise das relações entre as variáveis e pela comparação dos resultados observados com os resultados esperados a partir das hipóteses. A análise de conteúdo adequa-se ao estudo do implícito, das ideologias e sistemas de valores, ou seja do qualitativo e imensurável; a análise estatística dos dados adequa-se ao estudo das correlações entre fenómenos susceptíveis de serem exprimidos por variáveis quantitativas.

  • 7. As conclusões

A conclusão compreende geralmente três partes: uma retrospectiva das grandes linhas do procedimento (pergunta de partida na sua formulação definitiva, apresentação das características gerais do modelo de análise e das hipóteses de pesquisa, apresentação do campo de observação, dos métodos utilizados e das observações efectuadas, comparação entre os resultados esperados e os resultados observados e respectiva interpretação das diferenças), uma apresentação pormenorizada dos contributos para o conhecimento originados pelo trabalho (trata-se de mostrar em que é que a investigação permitiu conhecer melhor o objecto de estudo) e considerações de ordem prática. As conclusões de uma investigação raramente conduzem a aplicações práticas e indiscutíveis. Entre a análise e a decisão prática não é possível, nomeadamente, contornar a questão do juízo moral e da responsabilidade. No seu sentido mais negativo, a ideologia pode consistir precisamente em fixar, de forma indevida, conclusões normativas em nome de pretensas verdades científicas. Não há investigador capaz de influenciar duradoura e profundamente as práticas sociais que não se imponha um incessante trabalho de autoformação teórica.

Referências:


Quivy, Raymond; Campenhoudt, Luc van (2008) – “Manual de investigação em ciências sociais” – Lisboa – Gradiva (5ª Edição)


“Caderno TICG”, vol. 2 – Anexo 2

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